O Efeito Hulk: A arma secreta contra o absenteísmo em jogos de RPG
Imagine que chegou o dia da sua sessão de RPG. Você e seus amigos trocam mensagens no grupo do Whatsapp logo pela manhã, confirmando cada um a sua respectiva presença. Você já leu as mensagens, mas ainda se sente inseguro para confirmar se vai comparecer ou não à sessão. Afinal, você está cansado, a semana foi puxada e ficar até tarde jogando é algo que te consome muita energia. Mais além, você sente que a mesa nem está tão divertida assim, talvez os jogadores estejam ficando menos engajados, ou o mestre não tenha apresentado desafios que façam acender a chama da aventura dos jogadores já faz algum tempo.
Você deixa o celular de lado, sem
resposta. Pensa no que vai escrever como desculpa – já sentindo o peso da culpa
por isso. Vai até o banheiro, lava o rosto e se olha no espelho. Aqui, você tem
um lampejo de pensamento:
Não jogar esta
sessão é o equivalente a deixar de dar vida para sua personagem.
Você fica com isso na cabeça e
lembra dos filmes de super-heróis onde vemos o Bruce Banner lutando uma batalha
mental para não deixar a personalidade do Hulk lhe dominar. Ele precisa segurar
aquele ser raivoso e descontrolado dentro de si, não pode deixar se libertar ou
um grande caos se derramará por onde a criatura passar.
Mas chega um
momento em que o Bruce sente o cansaço de sua batalha interior, preferindo
então ceder a vez ao monstro, principalmente nos momentos em que lhe é
conveniente.
É aqui que acontece o que chamo
de “efeito Hulk”. Se você não jogar a sessão, se deixar sua personagem de lado
durante aquele encontro, ela vai permanecer “aprisionada” até que você
compareça em uma próxima sessão.
Agora, se você escolher “libertar”
sua personagem, dando-lhe vida, então, minha amiga, meu amigo, experimentaremos
o que há de mais transcendental no jogo de RPG: o efeito de dar vazão a uma
personalidade interior nossa por algumas horas e, assim, deixá-la livre para
sair e viver conforme sua própria vontade.
É nesse lugar de viver a
experiência de outra personalidade que alcançamos um nível elevado, quase
transcendente, de inspiração e arte no RPG. Alguns vão dizer que não sentem
nada disso quando estão jogando que a preocupação é apenas rolar o mais alto
possível para poder dar o maior dano na bola de fogo sobre os kobolds selvagens
inimigos.
O lugar onde quero chegar é muito
simples: sem você na sessão, sua personagem não terá uma história para contar.
E me perdoem os combeiros de plantão, eu sei que maximizar números é importante
para vocês, mas pensem que não haverá cantos e lendas a serem contadas sobre o herói
que derrotou grandes monstros com apenas um golpe se você não comparecer na
sessão.
O absenteísmo é uma pauta de
conversa em muitos grupos de Facebook e Whatsapp. É normal alguém se sentir
cansado ao fim do dia ou mesmo nos fins de semana. Vivemos uma rotina puxada de
trabalho, estudos, tarefas domésticas e demais responsabilidade da vida. Ter
tempo para lazer é cada vez mais escasso nesta era do capitalismo tardio. Passa
a ser, portanto, mais fácil abdicar da sessão do que encarar horas de jogo que
irão tomar nossa energia.
Nada contra quem falta por estar
cansado ou porque precisou atender outro compromisso mais importante. Mas, ao
que parece, o absenteísta contumaz tem outras motivações além destas. É dada
preferência para outras atividades de lazer, como jogos eletrônicos ou rolar o
feed de redes sociais, do que simplesmente comparecer para jogar mais uma sessão
de RPG.
Se isso já aconteceu com você, eu
quero te dizer que não estamos sós. Isso aconteceu comigo e, quando me olhei no
espelho enquanto construía a desculpa da vez para não comparecer a sessão, senti
que a minha personagem que construí e experenciei grandes aventuras se sentiria
“chateada” comigo, a ponto de travar uma discussão interna para ter seu devido
espaço, vez e voz na sua “vida”.
Eu preciso sair daqui, você precisa
me deixar sair. Eu tenho que continuar minha busca pessoal, você sabe muito bem
que estamos pertos de alcançar meu objetivo. Não vamos parar agora, temos que
seguir.
Com esse texto, eu só espero que você
reflita sobre suas práticas de RPG e sobre os motivos que te levam a praticar o
absenteísmo de maneira mais consciente.
Se caso este texto fez algum
sentido para você, deixa aqui nos comentários a sua opinião sobre o tema.
Se tudo não passa de uma grande “viagem”
da minha cabeça, então anota aqui e me aponta como você enxerga o fenômeno do
absenteísmo nas mesas de RPG por aí a fora.
Te agradeço por ler até aqui.
Até a próxima!
Bom texto. Continue.
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